8.19.2013

[ l'oiseau bleu ]


Não gosto desse lugar.
Não gosto, e não tem como me forçar a gostar dele. Odeio ficar aqui. Quero sair, quero ser livre. Por que eu tenho que ficar aqui? Papai disse que é para a minha segurança. Duvido. Se isso for ficar em segurança, prefiro correr perigo. Às vezes, papai me coloca perto da janela para ver a paisagem lá fora. Era lá que eu podia ver meu único amigo.




Ele era um passarinho de penas azuis claras, que montou seu ninho na frente da minha janela. Ele estava comigo desde quando eu era bem pequeno. Eu dava parte da minha comida à ele e ele me fazia companhia. Eu o chamei de Aile, significa asa em francês. Aile era um passarinho muito bonito, mas muito mesmo. As suas penas eram macias e de um tom de azul igual ao do céu. Os olhos dele, aquelas duas bolinhas bem pretas, pareciam conseguir enxergar a minha alma. Às vezes eu ficava o encarando, e ele fazia a mesma coisa. Olhava no fundo dos meus olhos e parece entender tudo que estou sentindo, depois levantava voo até o seu ninho. Meu grande sonho era poder ir lá para fora com ele. Poder correr no jardim com Aile voando à minha volta, e depois me jogar no chão e esperar ele pousar no meu peito. Queria ser livre junto com ele, poder aproveitar a liberdade com ele. Sempre quis fugir desse lugar por causa dele. Mesmo sendo apenas um passarinho azul para todo mundo, para mim, ele era mais do que isso. Meu único e melhor amigo. Até aquele dia. O dia em que eu acabei desviando meu olhar para baixo, aonde alguns meninos corriam uns atrás dos outros. Na hora, eu nem parei para pensar como eles tinham entrado lá. Só fiquei observando.
Eram uns quatro ou cinco, todos usando as mesmas roupas. Deviam ter a mesma idade que eu. Eu sou mais ou menos como eles quando me vejo no espelho... Eu acho. Pareciam estar se divertindo tanto... Por que eu não podia sair? Por que não podia ir com eles? Por que eu... ?
Um dos meninos pegou algo do bolso.


Era uma daquelas varetinhas com um elástico na ponta, que usam para jogar pedrinhas. Não vejo muito dessas varetinhas por aí, por isso não lembro o nome. Acho que é estilingue, ou coisa parecida. Os outros garotos à sua volta riam. Foi nessa hora que o Aile começou a voar. O com a varetinha apontou-a pra cima e mirou-a no meu amigo. Senti meu coração paralisar. " Ele não vai... Não pode... " pensei, desesperado. Tentei sair desesperadamente, mas não consegui. Só pude ficar olhando enquanto a pedrinha acertava a asa dele, e ele despencava de lá de cima. Parecia estar em câmera lenta. Aile caindo, o garoto com a varetinha correndo até ele, e um outro que parecia estar tão assustado quanto eu. Forcei as barras em vão, apenas pude machucar as minhas mãos. Os garotos finalmente se aproximaram dele. Aile estava caído no chão, sem mexer um músculo. Senti minha espinha estremecer e o meu rosto queimar. Não conseguia mais olhar para aquilo. É, até que o papai tinha razão. Lá fora era perigoso.
O mundo lá fora é cruel demais. Aqui dentro é mais seguro. Mesmo com essas barras, mesmo com essa gaiola à minha volta, mesmo com as minhas costas doendo tanto todos os dias... Se o Aile estivesse comigo naquela hora ele ainda estaria aqui. Eu não teria perdido meu único amigo. Meu destino é ficar aqui, sozinho, pra sempre. Eu já sabia disso desde o início, mas... Sem o Aile eu... Pelo menos não estaria cem por cento sozinho. Esse lugar era mais suportável com a companhia dele.
Queria que aquele dia fatídico nunca tivesse existido.

Tá uma porcaria e3e   Mas foi o melhor que eu consegui fazer.

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